O governo brasileiro avalia retomar a compra de energia da usina hidrelétrica de Guri, na Venezuela, para o abastecimento de Roraima. Essa possibilidade é defendida pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que disse à CNN querer retomar o diálogo com Caracas sobre o assunto.
Roraima se mantém como o único estado ainda desconectado do sistema interligado nacional. Até o começo de 2019, a maior parte do atendimento aos consumidores locais era feita por meio da transferência de energia de Guri.
Nos primeiros meses de gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em meio a apagões históricos na Venezuela, o fornecimento foi interrompido e nunca mais foi retomado. O contato quase inexistente entre o Brasil e o regime de Nicolás Maduro, nos últimos quatro anos, travou qualquer negociação.
Na avaliação do ministro Silveira, houve “extremismo ideológico” e quem saiu perdendo foram os consumidores brasileiros como um todo. De acordo com ele, a energia proveniente da Venezuela custa cerca de R$ 100 por megawatt-hora (MWh) e tem um benefício ambiental, por ser totalmente renovável.
Com o corte do abastecimento, Roraima passou a contar basicamente com usinas térmicas movidas a óleo combustível e a gás natural. O preço da energia chega a R$ 1.100 por megawatt-hora e 46 caminhões-tanque de óleo são necessários por dia para abastecer somente uma dessas usinas, afirmou o ministro.
“É uma insanidade deixarmos de usar energia limpa para queimarmos energia fóssil e mais cara”, disse Silveira à CNN. Para não deixar impagáveis as tarifas de energia, um subsídio nas contas de luz é dado pelo governo federal aos consumidores. Esse subsídio, no entanto, é rateado entre todos os consumidores de energia do país em suas faturas mensais.
Chama-se Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) e custará R$ 12 bilhões apenas em 2023.A usina de Guri, com 10.200 megawatts (MW) de potência instalada, está entre as dez maiores do mundo. Uma linha de transmissão, que liga Boa Vista ao complexo hidrelétrico, foi inaugurada pelo brasileiro Fernando Henrique Cardoso e pelo venezuelano Hugo Chávez em 2001. Ela pode escoar até 200 MW para Roraima.
Outro “linhão”, leiloado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) há pouco mais de uma década, conectaria Manaus a Boa Vista. As obras nunca começaram porque afetam a terra indígena do povo Waimiri-Atroari.Silveira descarta abrir mão do projeto Manaus-Boa Vista por causa de eventual retomada das importações de energia de Guri. A linha de transmissão, porém, ainda depende de licenciamento ambiental.
Integração energética
O ministro receberá na próxima segunda-feira (15), em Brasília, o secretário-executivo da Associação Latino-Americana de Energia (Olade), o chileno Andrés Rebolledo. Na pauta, possibilidades de integração energética.
Um dos empreendimentos que Silveira aponta como relevantes, nesse processo, é o gasoduto que ligaria a jazida de Vaca Muerta (Argentina) até a fronteira com o Rio Grande do Sul.
Prioridade do governo argentino, que busca financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o duto seria capaz de elevar a oferta de gás natural mais barato no mercado brasileiro. De acordo com Silveira, o gás de Vaca Muerta custa US$ 2,5 por milhão de BTU (unidade térmica de referência).
Enquanto isso, a Petrobras vende o insumo por até US$ 10, acrescentou. O ministro acredita que uma relação vantajosa para o Brasil seria, em troca de financiamento do BNDES, assinar um contrato de longo prazo (30 anos) e com baixo preço do gás (US$ 4 por milhão de BTU). Isso ajudaria, ele acredita, nos planos de reindustrialização do país.
“Temos três premissas a seguir: segurança jurídica, viabilidade econômica e garantia de fornecimento”, disse Silveira. “Defendo a integração energética e o estabelecimento de um diálogo comercial com a América do Sul, desde que o custo econômico e o retorno social sejam positivos para o Brasil”.
FONTE: CNN BRASIL