Há políticos que fazem da tribuna um ringue, da retórica um soco no ar e da pose combativa um personagem permanente. O problema começa quando a luta deixa de ser metafórica e passa a acontecer no balcão do cartório.
Segundo registros judiciais públicos, o vereador Marcos Combate, conhecido pelo discurso inflamado e pelo tom moralizante, voltou a protagonizar um episódio que não cabe em palanque, mas em processo. Depois de enfrentar ações de despejo envolvendo a empresa e o apartamento onde reside, ambas por aluguéis vencidos e não pagos, surge agora um novo capítulo, desta vez no terreno mais sensível possível: a escola dos filhos.
Consta nos autos dos processos nº 7075247-02.2025.8.22.0001 e nº 7075252-24.2025.8.22.0001 que há débitos educacionais relevantes em aberto. De acordo com a instituição credora, Maple Bear, operada pela empresa Monna Holanda Serviços de Educação Ltda., o parlamentar acumularia uma dívida de R$ 48.090,14 referente a um aluno e outros R$ 42.109,85. Somados, os valores ultrapassam com folga a barreira dos noventa mil reais.
Ainda segundo a escola, as mensalidades deixaram de ser pagas justamente a partir do momento em que Marcos Combate assumiu o mandato. Uma coincidência curiosa, para dizer o mínimo, considerando que o cargo público vem acompanhado de salário certo, todo mês, religiosamente depositado.
Diante disso, a pergunta surge quase sozinha, com ironia involuntária: será que o próximo discurso do vereador será em defesa da matrícula imediata dos filhos na rede municipal? Não como política pública, mas como solução doméstica.
Nada contra a escola pública. Ao contrário. O embaraço está no contraste. O mesmo vereador que cobra eficiência, gestão e responsabilidade do poder público parece ter dificuldades em aplicar esses conceitos na própria agenda financeira. Combate no microfone, inadimplência no boleto.
E fica a indagação final, que já ecoa nos corredores do fórum e nas rodas políticas da cidade: pode isso, Arnaldo?
