A cada ano, milhares de vidas são interrompidas de forma violenta no Brasil — e, na maioria dos casos, a justiça nunca chega. Um levantamento recente do Instituto Sou da Paz revelou que apenas 4 em cada 10 homicídios são esclarecidos no país, evidenciando uma grave crise na capacidade do sistema de investigação criminal. Mais alarmante ainda é que só um em cada quatro desses crimes recebe denúncia do Ministério Público no mesmo ano em que ocorre.
A lentidão e a ineficiência em responder aos homicídios têm consequências profundas. Para Beatriz Graeff, coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz, essa realidade mina a confiança da população nas instituições responsáveis por garantir segurança.
“Isso gera uma ferida profunda na sociedade, muito ligada à falta de credibilidade das instituições de Justiça e segurança pública. Há uma incapacidade de oferecer uma resposta eficaz em um tempo hábil para um crime tão grave”, afirma.
O levantamento também escancara a desigualdade regional na capacidade de resolver crimes. Enquanto no Distrito Federal 90% dos homicídios são esclarecidos, na Bahia o índice despenca para apenas 15%. A diferença revela falhas estruturais graves, que afetam diretamente o acesso à justiça dependendo de onde o crime ocorre.
Além da demora no oferecimento de denúncias, outro ponto crítico está nas falhas operacionais durante as investigações. O perito judicial Ricardo Caires aponta que a má gestão de provas prejudica diretamente a elucidação dos casos.
“Já vi casos em que armas desapareceram e projéteis sumiram. A maioria desses crimes fica parada em delegacias. Quando o material é enviado para o Instituto de Criminalística, tudo se resolve mais rápido”, relata.
A carência de recursos, a sobrecarga nas delegacias e a falta de integração entre os órgãos investigativos criam um cenário em que provas são extraviadas, laudos demoram a ser produzidos e processos se arrastam sem conclusão.
A impunidade se torna ainda mais cruel quando casos de grande repercussão seguem sem resposta. O assassinato do funkeiro MC Daleste, morto em 2013 durante um show em Campinas (SP), permanece sem solução. Sua irmã, Carolina Pellegrini, expressa a frustração de muitas famílias brasileiras:
“A pior parte é viver sem respostas. A gente espera justiça, mas o tempo passa e ninguém nos dá uma resposta.”
Anualmente, o Brasil registra cerca de 40 mil homicídios. A maioria, infelizmente, termina sem investigação completa, sem denúncia, sem julgamento — e sem justiça.