O discurso anual do presidente russo Vladimir Putin aconteceu nesta terça-feira, 21, três dias antes do conflito que trava contra a Ucrânia completar um ano. Diante de uma audiência com legisladores, autoridades estatais e soldados, o líder da Rússia criticou o Ocidente. “Foram eles que começaram a guerra. E estamos usando a força para encerrá-la”, declarou Putin. Por Constituição, ele teria que fazer o discurso anualmente, mas em 2022, quando as tropas russas invadiram a Ucrânia, Putin não se manifestou dessa forma.
Ao retornar com o discurso, ele anunciou a suspensão do cumprimento por parte de seu país do START III, ou Novo START, o último tratado de desarmamento nuclear ainda em vigor entre a Rússia e os Estados Unidos. O presidente ressaltou que “a Rússia não abandona, mas apenas suspende” o cumprimento do tratado sobre a redução de armamento estratégico ofensivo que expira em 2026, pelo que culpou os EUA. “Se os Estados Unidos fizerem testes nucleares com um novo tipo de arma estratégica, a Rússia também fará testes” alertou. “É claro que não seremos os primeiros a fazê-lo (…). Ninguém deve alimentar a perigosa ilusão de que a paridade estratégica global pode ser destruída.”
O líder russo também fez questão de desvincular sua decisão do atual conflito na Ucrânia e do apoio do Ocidente a Kiev. Nesse sentido, tachou como “teatro do absurdo” a declaração em que a Otan exigia que a Rússia cumprisse o tratado, que inclui inspeções de suas instalações nucleares. Em resposta, defendeu que a Aliança Atlântica passe a fazer parte do tratado, uma vez que países como o Reino Unido e a França também possuem arsenais nucleares. Em novembro de 2022, Rússia e EUA iriam retomar o diálogo estratégico no Cairo, mas Moscou decidiu no último minuto adiá-lo indefinidamente devido à “falta de disposição” de Washington em levar em consideração as prioridades russas. Os Estados Unidos haviam suspendido o diálogo sobre controle de armas após a intervenção da Rússia na Ucrânia.
A Rússia, por sua vez, informou Washington em agosto de sua decisão de proibir as inspeções in loco dos EUA de seu arsenal de armas nucleares, citando dificuldades em fazer o mesmo em território americano devido a sanções ocidentais sobre autorizações de sobrevoo e concessão de vistos a autoridades russas. Em fevereiro de 2021, Putin e o presidente americano, Joe Biden, estenderam por cinco anos o último tratado de desarmamento nuclear entre as duas potências, assinado em 2010.
*Com informações da AFP e do Estadão Conteúdo.