O presidente turco, Tayyip Erdogan, decretou, nesta terça-feira (7), estado de emergência em dez províncias devastadas por dois terremotos que mataram mais de 7.800 pessoas e deixaram um rastro de destruição em uma ampla área do sul da Turquia e no norte da vizinha Síria. Um dia após os terremotos, as equipes de resgate que trabalhavam em condições difíceis e, sob o frio intenso do inverno, lutavam para retirar as pessoas dos escombros dos prédios desabados.
À medida que a escala do desastre se tornava cada vez mais aparente, o número de mortos aumentava consideravelmente. Um funcionário da Organização das Nações Unidas (ONU) disse temer que milhares de crianças possam ter morrido. Moradores de várias cidades turcas destruídas expressaram raiva e desespero com o que disseram ser uma resposta lenta e inadequada das autoridades ao terremoto mais mortal a atingir a Turquia desde 1999.
“Não há nem uma única pessoa aqui. Estamos sob a neve, sem casa, sem nada”, disse Murat Alinak, cuja casa em Malatya desabou, e cujos parentes estão desaparecidos. “O que devo fazer, aonde posso ir?” Um terremoto de magnitude 7,8 na segunda-feira, seguido horas depois por outro, quase tão poderoso quanto o primeiro, derrubou milhares de edifícios, incluindo hospitais, escolas e prédios de apartamentos.
Dezenas de milhares de pessoas ficaram feridas ou desabrigadas em cidades da Turquia e do norte da Síria. O clima de inverno dificulta os esforços de resgate e socorro e tornou a situação dos desabrigados ainda mais tortuosa. Algumas áreas ficaram sem combustível e eletricidade.
Funcionários de serviços humanitários expressaram preocupação especial com a situação na Síria, já atingida por grave crise após quase 12 anos de guerra civil. Hoje, além de declarar dez províncias turcas como zona de desastre, Erdogan impôs estado de emergência por três meses. Isso permitirá que o governo contorne o Parlamento na promulgação de novas leis e limite ou suspenda direitos e liberdades.
O governo abrirá hotéis no centro turístico de Antália para abrigar temporariamente as pessoas afetadas pelos terremotos, informou o presidente turco, que enfrentará uma eleição nacional dentro de três meses. O número de mortos na Turquia subiu para 5.894 e mais de 31 mil pessoas ficaram feridas, disse o ministro da Saúde, Fahrettin Koca. Na Síria, pelo menos 1,9 mil pessoas morreram, informaram fontes do governo e de um serviço de resgate na região noroeste, controlada por insurgentes.
As autoridades turcas dizem que cerca de 13,5 milhões de pessoas foram afetadas em uma área de aproximadamente 450 quilômetros (km) de Adana, no oeste, a Diyarbakir, no leste, e 300 km de Malatya, no norte, até Hatay, no sul.
As autoridades sírias relataram mortes no extremo sul de Hama, a cerca de 250 km do epicentro do tremor. “Agora é uma corrida contra o tempo”, disse o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, em Genebra. “A cada minuto, a cada hora que passa, as chances de encontrar sobreviventes diminuem.”
Em toda a região, as equipes de resgate trabalharam dia e noite enquanto as pessoas esperavam angustiadas por montes de escombros agarradas à esperança de que amigos, parentes e vizinhos pudessem ser encontrados vivos. Em Antakya, capital da província de Hatay, na fronteira com a Síria, as equipes de resgate eram escassas e os próprios moradores vasculhavam os escombros. As pessoas imploravam por capacetes, martelos, barras de ferro e cordas.
Mais de 12 mil equipes turcas de busca e resgate estão trabalhando nas áreas afetadas, juntamente com 9 mil soldados. Cerca de 70 países e estão enviando pessoal, equipamento e ajuda, mas a escala do desastre é assustadora. “A área é enorme. Nunca vi nada assim antes”, disse Johannes Gust, do serviço de bombeiros e resgate da Alemanha, enquanto carregava equipamentos em um caminhão no aeroporto de Adana, na Turquia.
Segundo a Autoridade de Gerenciamento de Emergências e Desastres da Turquia, foram destruídos no terremoto 5.775 prédios e mais de 20 mil pessoas ficaram feridas. Em Genebra, o porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), James Elder, disse que os terremotos podem ter matado milhares de crianças. Refugiados sírios no noroeste da Síria e na Turquia estão entre as pessoas mais vulneráveis afetadas, afirmou Elder.
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