O ex-secretário da Segurança Pública do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça Anderson Torres deve prestar depoimento à Polícia Federal (PF) nesta quarta-feira (18) em relação ao ataque aos Três Poderes.
Recaem sobre ele suspeitas de ser conivente e omisso diante dos atos criminosos promovidos por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no dia 8 de janeiro, ocasião em que os criminosos depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília. Torres foi exonerado do cargo de secretário de Segurança Pública do DF no dia seguinte, e está preso preventivamente desde o último sábado (14).
De acordo com informações do analista de política da CNN Gustavo Uribe, autoridades das forças de segurança não descartam a realização de uma acareação entre Torres e o governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).
Aliados de Ibaneis Rocha estariam preocupados com o depoimento do ex-ministro. A estratégia de defesa do governador afastado se baseia na argumentação de que ele não teria tido acesso a todas as informações que Torres saberia sobre a possibilidade de atentados criminosos nas sedes dos Três Poderes.
O entorno do governador afastado teme que Torres apresente alguma prova que possa contradizer o depoimento de Rocha para a PF. O melhor cenário, para aliados de Ibaneis Rocha, seria a palavra de um contra o outro, por avaliarem que a credibilidade do ex-ministro com a Justiça esteja mais baixa, principalmente após a descoberta da minuta golpista em sua casa.
A Polícia Federal encontrou na casa de Anderson Torres uma minuta (proposta) para um decreto para que o Bolsonaro instaurasse “estado de defesa”, visando alterar o resultado das eleições presidenciais.
Na tarde desta terça-feira (17), o advogado de Anderson Torres, Rodrigo Roca, afirmou à CNN que não há qualquer possibilidade de Torres realizar uma delação premiada. Segundo outros interlocutores de Torres, ele teria dito antes de ser preso que descartava a possibilidade de acusar Bolsonaro de alguma participação nos atos criminosos de 8 de janeiro.
A prisão de Torres
Anderson Torres foi preso pela Polícia Federal (PF) no último sábado (14) e está no 4º batalhão da Polícia Militar no Guará, região administrativa do DF.
Fontes relataram à analista de política da CNN Basília Rodrigues que a prisão foi rápida, tranquila e discreta. O avião de Torres, vindo de Miami, onde ele passava as férias nos Estados Unidos, pousou por volta de 7h20 no Aeroporto Internacional de Brasília.
Em nota, a PF informou que Torres “foi preso ao desembarcar no Aeroporto de Brasília e encaminhado para a custódia, onde permanecerá à disposição da Justiça”. “As investigações seguem em sigilo”, completou.
O mandado de prisão preventiva contra Torres foi decretado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“As omissões do Secretário de Segurança Pública e do Comandante Geral da Polícia Militar, detalhadamente narradas na representação da autoridade policial, verificadas, notadamente no que diz respeito à falta da devida preparação para os atos criminosos e terroristas anunciados, revelam a necessidade de garantia da ordem pública”, afirma Moraes na decisão que determinou a prisão de Torres.
Na sexta-feira (13), o ministro também atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e determinou a abertura de um novo inquérito para apurar as condutas de Ibaneis Rocha e de Anderson durante os atos do dia 8.
Para a PGR, há indícios graves da atuação criminosa dos quatro e elencou uma série de fatos apontando para a “aparente omissão, supostamente dolosa,” das autoridades públicas e das forças policiais.
O que diz Torres
No início de segunda-feira (9), logo após ter sido exonerado do cargo de secretário, Anderson Torres publicou um pronunciamento pelo Twitter dizendo que foi “surpreendido pelas lamentáveis cenas” em Brasília durante seu “segundo dia de férias”.
“Lamento profundamente que sejam levantadas hipóteses absurdas de qualquer tipo de conivência minha com as barbáries que assistimos. Estou certo de que esse execrável episódio será totalmente esclarecido, e seus responsáveis exemplarmente punidos”, escreve o comunicado.
Em entrevista exclusiva à CNN, um dos advogados que o representa afirmou ele não foi omisso e não tem “a mínima parcela de culpa” nos ataques em Brasília. Já sobre o documento, que permitiria que Bolsonaro interferisse no resultado das eleições presidenciais, encontrado em sua casa após diligências da Polícia Federal, o ex-ministro ressaltou que havia na casa dele “uma pilha de documentos para descarte, onde muito provavelmente o material descrito na reportagem foi encontrado”. Minutos antes da postagem de Torres, à CNN, o advogado pontuou que o documento não é de autoria de Torres.
*Publicado por Fernanda Pinotti, da CNN, em São Paulo
(Com informações de Caio Junqueira, Gustavo Uribe e Larissa Rodrigues)