Os chefes de finanças do grupo das 20 principais economias do mundo, o G20, chegaram ao que se chamou de “forte consenso” sobre questões como segurança alimentar global em uma reunião de dois dias na Indonésia, mas permaneceu dividido sobre a guerra da Rússia na Ucrânia.
A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, disse que as diferenças impediram os ministros das Finanças e os banqueiros centrais de emitir um comunicado formal, mas que o grupo concordou com a necessidade de lidar com uma crise de segurança alimentar cada vez pior.
Os países ocidentais impuseram fortes sanções à Rússia, acusando-a de crimes de guerra na Ucrânia que Moscou nega. Outras nações do G20, incluindo China, Índia e África do Sul, foram mais silenciosas em sua resposta.
“Este é um momento desafiador porque a Rússia faz parte do G20 e não concorda com o resto de nós sobre como caracterizar a guerra”, disse Yellen.
Autoridades ocidentais de alto escalão, incluindo Yellen e a ministra das Finanças canadense, Chrystia Freeland, condenaram na sexta-feira (15) a guerra e criticaram as autoridades russas pelas enormes consequências econômicas que ela causou.
O presidente do banco central indonésio, Perry Warjiyo, pediu neste sábado (16) aos países membros que permaneçam focados nos objetivos da recuperação econômica global, à medida que a invasão da Rússia – que chama de “operação militar especial” – ofusca sucessivas rodadas de negociações multilaterais.
Analistas disseram que o fracasso em chegar a um comunicado reflete a fraqueza do outrora poderoso grupo econômico.
“Estamos em um momento sem rumo na economia mundial com o G20 paralisado pela guerra de Putin e o G7 incapaz de liderar em bens públicos globais”, afirma Kevin Gallagher, que dirige o Centro de Políticas de Desenvolvimento Global da Universidade de Boston.
A ministra das Finanças da Indonésia, Sri Mulyani, que presidiu a reunião de dois dias, esperava que os delegados pudessem abordar conjuntamente o aumento dos preços das commodities, uma escalada da crise de segurança alimentar e os efeitos colaterais sobre a capacidade dos países de baixa renda de pagar suas dívidas.
Os membros do G20 se reuniram no início da pandemia, mas as iniciativas para amortecer o choque para os países pobres altamente endividados não produziram resultados significativos.
Os países ocidentais, preocupados com a falta de transparência nos empréstimos da China, estavam pressionando Pequim a reestruturar os contratos de dívida e transformar seu papel em “um que (contribui) para os países, em vez de gerar dívida e servidão”, disse o embaixador dos Estados Unidos no Japão, Rahm Emanuel.
Ministra da Indonésia citou avanços nas discussões entre países
Após o encontro, Mulyani emitiu uma declaração resumindo os eventos e discussões da reunião.
Segundo ela, todos os presentes concordaram que o G20 está em uma situação “desafiadora e difícil” devido a tensões geopolíticas. Ela afirmou que todos os membros do grupo concordaram em manter a organização como um fórum de cooperação, destacando a importância de manter o multilateralismo.
Apesar dos desafios, a ministra indonésia avaliou que houve “avanços”, com todos os países concordando em apoiar as metas de desenvolvimento sustentável e os objetivos estabelecidos no Acordo de Paris, com uma transição para uma economia de emissões zero.
A ministra citou ainda uma “sinalização forte” em torno das discussões sobre um imposto mínimo global, e que todos os ministros de finanças presentes concordaram que a insegurança alimentar mundial demanda mais intervenções e políticas, assim como correções de disrupções em cadeias de suprimento.
Ela defendeu ainda que é necessário “aliviar a escassez de fertilizantes”, e afirmou que o Banco Mundial e o FMI vão apoiar países que enfrentam a insegurança alimentar.
Entretanto, nenhum acordo foi atingido em relação a um comunicado sobre a guerra na Ucrânia, e o limite nos preços do petróleo russo não foi discutido. A ministra classificou as decisões como o “melhor resultado” possível.
Chefe do FMI faz alerta sobre perspectiva global “excepcionalmente incerta”
A chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, alertou as autoridades do G20 neste sábado para tomar medidas urgentes para combater a inflação, destacando que a perspectiva econômica global “excepcionalmente incerta” pode piorar se os preços mais altos persistirem.
Georgieva, que falou durante a reunião na Indonésia, disse que a intensificação da guerra da Rússia na Ucrânia aumentou a pressão sobre os preços de commodities e energia, e as condições financeiras globais estão apertando mais do que o esperado.
Ao mesmo tempo, interrupções relacionadas à pandemia e novos gargalos na cadeia de suprimentos continuam a pesar na atividade econômica.
A pressão está aumentando em países altamente endividados, e a situação da dívida está “se deteriorando rapidamente”, afirmou ela, de acordo com um texto sobre suas declarações.