Aos 37 anos, Luis Claudio foi, ele próprio, personagem da tragédia recente vivida pela família de Lula. Chegou a ser investigado por lavagem de dinheiro e tráfico de influência em razão de pagamentos feitos por empresários a uma empresa de marketing esportivo da qual é sócio. A apuração foi arquivada em 2020. O filho do presidente eleito, que chegou a trabalhar em clubes como Palmeiras e Corinthians e ensaiou um projeto para difundir o futebol americano no Brasil, segue no ramo esportivo. Atualmente, é gestor de um time no estado do Amazonas, o Parintins Futebol Clube, que neste ano disputou a segunda divisão local e conseguiu garantir vaga na primeira em 2023.
Nesta semana, Luis Claudio falou à coluna. Respondeu, por meio de áudios de WhatsApp, a uma sequência de perguntas. Sobre o resultado das eleições, disse que o pai e a família inteira merecem a vitória nas urnas depois dos solavancos vividos nos últimos anos – e que Lula, especialmente, merece “terminar de escrever” sua biografia com a oportunidade de fazer um governo de sucesso. “Meu pai e a gente merece isso. Ele poder terminar de escrever a biografia dele com, se Deus quiser, mais quatro anos de sucesso.”
O caçula de Lula conta que, nos momentos de maior adversidade, o pai sempre tranquilizou os familiares, indicando que um dia daria a volta por cima. “Meu pai sempre deixou a gente muito tranquilo, de conversar, de acalmar a gente, de falar que ia passar, que ele ia dar a volta por cima. (…) A gente ia para Curitiba visitá-lo (na prisão) e voltava mais tranquilo do que a gente ia. A gente ia preocupado e voltava de lá em paz. E tá aí, né?”, diz.
Dos cinco filhos de Lula (três com Marisa Letícia), Luis Claudio é o mais ativo nas redes. Nos últimos dias, postou seguidas vezes – no Instagram, ganhou admiradoras, que elogiaram as fotos dele ao lado do pai. “Lula sogrão”, brincou uma seguidora. Indagado sobre a relação com Rosângela Silva, a Janja, com quem o presidente eleito se casou neste ano, Luis Claudio não se estende muito: “A gente tem um bom relacionamento, né? Ela é uma pessoa que trata bem meu pai, e a gente tem um bom relacionamento com ela”.
Sobre as suspeitas de corrupção do passado, ele aproveita para ironizar a postura de Jair Bolsonaro no trato das apurações que envolvem seus filhos. “Eu e meus irmãos fomos investigados durante o período do governo Dilma e nenhuma vez houve mudança na presidência (refere-se à direção-geral) da Polícia Federal, ou de algum diretor ou delegado. Se tem acusações, tem mais que ser investigado mesmo, diferente do que o atual presidente faz, que é uma lambança geral”, afirma.
Eis a íntegra da entrevista, com trechos em áudio:
Qual foi o seu sentimento durante a contagem dos votos?
Eu comecei a acompanhar de casa e, no caminho para o hotel (onde estavam os integrantes da campanha e para onde Lula foi mais tarde), começou a virada. Devargazinho, pouquinho a pouquinho, mas já estava dando sinais de que teria virada. E a gente acompanhou a virada no hotel junto com Alckmin, Paulo Vieira, Daniela Mercury, e aí ele (Lula) foi para o hotel depois que já tinha sido declarado que ele seria o novo presidente. Quando ele chegou foi uma festa danada. A gente via nitidamente a felicidade dele. Foi um momento muito bacana.
Durante a apuração, vocês acharam em algum momento que a vitória poderia não vir?
Na verdade, eu acho que a gente ficou meio frustrado com o resultado do primeiro turno. Foi um resultado que mostrou para a gente que tem muita gente ruim no Brasil, com pensamento ruim, porque um candidato que nem o Bolsonaro não é um cara que merecia ter uma votação do jeito que tem. Mas a gente estava ali, firme e forte, acreditando no trabalho do pai, sabendo o tanto que ele se dedica, o tanto que ele gosta desse povo brasileiro. Assim, a gente fica com receio, lógico que fica, mas a gente estava bem esperançoso de que ia dar tudo certo. Acho que a esperança era muito maior do que o medo.
Você lembrou muito da sua mãe durante esse período de campanha?
Eu lembro dela todo santo dia. Nós, filhos, fomos criados muito perto dela. A gente tinha costume de estar sempre muito perto dela, e ela faz muita falta. Todos os netos sentem muita falta, os filhos… É uma saudade complicada, porque foi uma vida interrompida por causa de terceiros, isso é muito triste.
Quando você fala “terceiros”, está se referindo à Lava Jato?
Com certeza. Minha mãe sempre foi uma “mãezona”, que coloca os filhos debaixo dos braços e defende. E, de repente, ela começa a ver jornal contando mentira, pessoal da Justiça que é para ser isento contando mentira, expondo parte das nossas vidas de forma caluniosa. Então, eu sempre falo que é muito como uma panela de pressão. Ela foi aguentando, aguentando, até a hora que, infelizmente, explodiu. É muito doloroso, porque principalmente eu era muito ligado nela. Como sou o caçula, e tenho sete anos de diferença para o meu irmão que vem depois de mim, eu acho que eu fui o que ficou mais grudado nela. Fui criado mais embaixo da asa dela. Então, é uma falta muito grande ela que faz na nossa vida.
Como foram esses últimos anos para você e sua família, com o impeachment de Dilma Rousseff, a prisão do seu pai e, depois, o governo Bolsonaro?
Foi muito triste todo o processo. A gente viu o golpe que foi dado contra a Dilma de uma forma absurda e explícita do jeito que foi, depois vem o falecimento da minha mãe, o falecimento do meu sobrinho, que com certeza tirou a família toda do eixo. Aí logo em seguida vêm as pancadas de processos injustos, tanta calúnia que fizeram contra a gente. Aí soma a isso a prisão do meu pai, que foi a coisa mais absurda que eu já vi na vida. Mas, ao mesmo tempo, meu pai sempre deixou a gente muito tranquilo, de conversar, de acalmar a gente, de falar que ia passar, que ele ia dar a volta por cima. Então, a gente ia para Curitiba visitá-lo e voltava mais tranquilo do que a gente ia. A gente ia preocupado e voltava de lá em paz. E tá aí, né? Tudo isso está provado agora, a inocência de meu pai. O orgulho que a gente sempre sentiu por ele só aumenta, e ele deu a volta por cima e a família também está dando (a volta por cima). É bacana ver que a minha família se manteve firme e forte. A gente se abalou para caramba, mas em nenhum momento se encolheu. Então, eu acho que a gente, meu pai e a gente, merece isso. Ele poder terminar de escrever a biografia dele com, se Deus quiser, mais quatro anos de sucesso… E a gente vai lutando junto do lado dele.
O que acha que sua mãe diria para o seu pai sobre a decisão dele de disputar de novo a Presidência?
Lá atrás, quando começaram a fazer as denúncias e coisas mentirosas contra a minha família, e o mentiroso do Sergio Moro começou a querer aparecer e querer dar entrevista ao lado das televisões poderosas, essas coisas, no fundo a minha mãe já sabia que tinham mexido com o cara errado. Meu pai não é um cara de levar desaforo para casa. E, com ela viva ainda, ele sempre falou que iria provar a inocência dele e que não tinha medo. Eu acredito que ela já sabia onde ia acabar tudo isso. Ela tinha noção do marido que ela tinha, foram mais de 40 anos casados. Ela conhecia bem ele. Então, eu acho que ela sabia que ele ia para cima deles, que iria disputar a eleição de novo e que iria conseguir provar a sua inocência. Eu, sinceramente, acho que ela já sabia de tudo isso.
Você pretende se mudar para Brasília quando seu pai assumir?
Eu acredito que não. Tenho minhas raízes em São Paulo, minha carreira toda em São Paulo, e uma parte hoje no Amazonas. Não devo sair desse eixo.
Como é a sua relação e a dos seus irmãos com Janja?
A gente tem um bom relacionamento, né? Ela é uma pessoa que trata muito bem meu pai, e a gente tem um bom relacionamento com ela.
Seu pai sempre teve fixa, na cabeça, a ideia de voltar à Presidência? Quando isso ficou mais claro?
Eu acho que meu pai tinha a sensação de dever cumprido em 2010, quando terminou o ciclo dele. E eu acredito que ele não tinha a pretensão de voltar a ser presidente. Ele nunca tinha comentado isso com a gente, nem nada. Só que eu acho que quando começaram as acusações levianas contra nós, as calúnias todas, eu acho que isso foi incomodando ele… E aí, somado ao fato de o Brasil começar a cair numa crise absurda, com um governo de extrema direita indecente e irresponsável que simplesmente não pensa no povo brasileiro e só foca numa minoria, eu acho que ali foi inflamando a vontade dele de voltar, porque ele viu que tinha muito a contribuir ainda.
Você acredita que seu pai, neste próximo mandato, tem que fazer algo diferente do que ele fez nos outros?
Eu não gosto muito de falar de política, mas hoje eu vejo como extremamente necessário voltar a garantir pelo menos o básico para a população. Que o povo tenha de volta um sistema de saúde funcional, que a gente consiga garantir três refeições para a população, que a gente volte a tirar o Brasil do mapa da fome. Eu acho que, por enquanto, a gente tem que pensar muito no mais básico possível para que a gente possa voltar a ter felicidade. Que o povo brasileiro possa voltar a sorrir, possa voltar a ser o que era. Acho que é o básico.
Sobre corrupção, seu pai chegou a dizer na sabatina da TV Globo que não tem como negar os casos. Você acredita que agora é a chance de corrigir os erros do passado?
Eu acho que o governo do meu pai sempre ajudou muito nas ferramentas de combate à corrupção. Eu acho que esse é o certo. Um governo não tem que temer acusações. O governo tem que governar e fazer com que a população se sinta segura de que aquele governante é honesto e está fazendo o melhor para a população. O governo do meu pai fez várias ferramentas contra a corrupção. Acho que tem que continuar nessa linha. Eu e meus irmãos fomos investigados durante o período do governo Dilma e nenhuma vez houve mudança na presidência (refere-se à direção-geral) da Polícia Federal, ou de algum diretor ou delegado. Se tem acusações, tem mais que ser investigado mesmo, diferente do que o atual presidente faz, que é uma lambança geral.