A dois meses do primeiro turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL) retomou nesta terça-feira (2) as críticas ao sistema eleitoral brasileiro, ao Supremo Tribunal Federal e aos ministros da Corte Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.
Em entrevista à rádio Guaíba, Bolsonaro chamou Barroso de “criminoso” por ter se reunido, em 2021, com líderes partidários na época da tramitação da PEC do Voto Impresso, patrocinada pelo presidente, no Congresso ― o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) era também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na ocasião. A proposta defendida por Bolsonaro foi analisada na Câmara dos Deputados, mas não obteve os votos necessários para ser aprovada.
“Foi para plenário, nós ganhamos, mas não conseguimos 308 votos [para aprovar a PEC]. Perdemos. Então foi uma interferência direta do Barroso dentro do Congresso Nacional para não aprovar o voto impresso, uma interferência política, um crime previsto na Constituição. O Barroso é um criminoso”, disse Bolsonaro.
O presidente também criticou Alexandre de Moraes por causa das investigações sob seu comando e que incluem Bolsonaro e aliados. “A questão do Ministério Público, os inquéritos do Alexandre de Moraes são completamente imorais, ilegais. É uma perseguição implacável por parte dele. A gente sabe o lado dele”, disse o presidente.
Ele se referia às críticas feitas na segunda-feira (1º) pela vice-procuradora-geral da República Lindôra Araújo a Moraes por ter pedido novas diligências no processo que investiga suspeitas de vazamento cometido por Bolsonaro. Lindôra pediu arquivamento do caso.
Bolsonaro também falou sobre uma suposta ação de Moraes com o objetivo de, segundo ele, “jogar a rede, puxar a rede, ver o que tem nela e acusar a pessoa”.
“Se eu pegar qualquer um de vocês agora e quebrar o sigilo de vocês, do seu esposo, da sua esposa, do seu irmão, eu vou achar alguma coisa errada. ‘Ah, o cara comprou R$ 20 mil num carro, de tal fulano’, vai que esse fulano é um traficante e ninguém sabe disso. Opa, vamos investigar essa pessoa com relação com tráfico. É isso que os caras fazem”, citou.
O presidente afirmou que o sigilo de um de seus ajudantes foi quebrado por ordem do Supremo. Ele não mencionou o nome do funcionário.
“Isso eu não vou adjetivar aqui, que é um crime que essa pessoa cometeu. O objetivo não é o ajudante de ordem, é ver as informações, as mensagens que eu troco com ele, mensagens confidenciais. Eu vou para Rússia, para os EUA, por vezes eu troco mensagem: ‘me levanta isso, me levanta aquilo, o que você acha disso, o que acha daquilo, me abasteça de informação’. Isso o Alexandre de Moraes tem em mãos. Para tentar uma maneira do ‘jogue a rede’ de me incriminar em algum lugar”, acusou Bolsonaro.
“Agora ele está fazendo tudo de errado e, no meu entender, ele não vai ter sucesso no seu intento final”, completou.
Em nota à CNN, a assessoria do STF respondeu que os ministros não vão se manifestar sobre as menções de Bolsonaro.
Sete de Setembro e ‘transparência’ no processo eleitoral
Em outros momentos, Bolsonaro voltou a fazer críticas às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral brasileiro, dizendo que o TSE não é transparente em relação ao processo de votação.
O presidente também indicou que esse deverá ser o tema, para os apoiadores, do desfile do feriado de Sete de Setembro ― neste ano, o evento do Rio de Janeiro, tradicionalmente realizado na avenida Presidente Vargas, acontecerá na praia de Copacabana, com participação das Forças Armadas.
“O pessoal vai prestigiar o desfile. Vai estar de camisa verde e amarela, deve ter alguns protestos, é natural. Da nossa parte, não vamos querer nenhum protesto ‘para fechar isso ou fechar aquilo’. Muitas instituições estão se fechando moralmente e dá para ganhar essa guerra dentro das quatro linhas. Uma das frases mais mostradas, que devem ser, é a questão da transparência, principalmente a eleitoral”, disse.
Bolsonaro negou que o ato a ser realizado no Dia da Independência tenha como objetivo pedir que as eleições não ocorram. “Agora, nós queremos transparência por ocasião das votações e da apuração. Pedimos essa transparência, apesar do TSE ser contra, mesmo depois de ter chamado as Forças Armadas. A transparência foi uma das propostas das Forças Armadas, e até o momento o TSE não tem se manifestado, ou seja, são contra as propostas das Forças Armadas”, afirmou o presidente.
*Publicado por Marcelo Tuvuca, com informações de Marcello Sapio, Fernando Alves e João Rosa, da CNN