Os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do PL, Valdemar da Costa Neto, jantaram ontem à noite em Brasília e discutiram a possibilidade de um acordo para a eleição da Câmara.
A proposta levada por Valdemar a Arthur Lira foi a de o PL — maior partido da nova legislatura com 101 deputados — apoiar a reeleição de Lira em troca do apoio a um nome do PL na sucessão dele em 2026.
Na prática, seria a reedição de um acordo que PT e MDB colocaram em prática nos governos Lula e que possibilitou a alternância entre os dois partidos no comando da Câmara entre 2007 e 2015. Se vingar, manteria o principal aliado de Bolsonaro no Congresso no comando da Câmara no início do governo Lula e um correligionário de Bolsonaro na segunda metade do governo Lula.
Na conversa, Valdemar pediu também que o acordo incluísse o apoio de Lira para que o PL comandasse o Senado a partir de janeiro. A operação política teria o apoio de Lira para que a senadora eleita Teresa Cristina deixasse o PP e migrasse para o PL.
Se efetivado, o acordo colocaria no comando da Câmara e do Senado dois aliados do presidente Jair Bolsonaro na largada do governo Lula.
A negociação, segundo interlocutores do PL, tem aval de Bolsonaro e ocorreu após encontro do presidente com Valdemar em que começaram a debater o futuro político de Bolsonaro. Nesse encontro, Bolsonaro disse a Valdemar que pretende permanecer no PL, o que permitiu que ambos passassem já nesta semana a vislumbrar como trabalhar para que ele vire o principal líder da oposição a Lula. Foi também em razão disso que Valdemar pediu a Bolsonaro que se posicionasse contra os bloqueios de seus apoiadores nas rodovias. A avaliação é de que o movimento, se crescesse, poderia se voltar contra ele diante de um possível colapso na economia. Só nesta terça-feira, eles estiveram juntos duas vezes.
Uma das ideias em debate é que o PL não aceite cargos no governo Lula e tente ocupar postos estratégicos no Congresso, o que lhe permitiria manter-se influente na medida em que o Legislativo nos últimos anos ampliou seu poder ao obter para si o controle de maiores fatias do Orçamento.
Além disso, insere-se nesta avaliação a percepção na cúpula do PL de que o partido não seria contemplado com algo de peso no governo Lula, uma vez que a coalizão que elegeu o petista tem dez partidos, número ampliado para onze no segundo turno com o apoio do PDT. O governo ainda deve buscar a entrada de mais legendas, como PSD, União Brasil e MDB. Sinal disso é de que até agora, o PT não procurou Valdemar para conversar.
Em razão desse cenário, ele tem avaliado considerar que um bom caminho seria ocupar postos relevantes no Congresso e manter o bolsonarismo como força política, levando-o como cabo eleitoral para ampliar o número de prefeitos em 2024 e tentar fazê-lo presidente novamente em 2026.