A violência crescente em Manaus tem assustado moradores e revelado uma crise de segurança pública. Na manhã desta segunda-feira (4), Raimundo Nonato Monteiro Palheta, de 43 anos, foi encontrado morto em uma área de mata no bairro Monte das Oliveiras, zona Norte da capital. Ele foi brutalmente assassinado com múltiplos golpes de faca – quatro no pescoço, cinco nas costas, um no braço e um no abdômen –, um crime que reforça o domínio cruel do chamado “Tribunal do Crime” nas áreas periféricas de Manaus.
Conforme informações preliminares, Raimundo havia sobrevivido a uma tentativa de homicídio cinco meses atrás, quando foi alvejado com dois tiros – um na bochecha e outro no maxilar. As investigações apontam que ambos os ataques têm ligação com dívidas de drogas, uma motivação comum em um cenário onde o tráfico dita as regras e os conflitos são resolvidos à base de violência extrema. O caso está sendo apurado pela Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS).
Queima de arquivo
No último domingo (3), foi relatado um crime horrendo em Manaus, onde Carlos Henrique foi brutalmente assassinado após revelar supostas conexões com uma milícia envolvendo figuras de destaque na segurança pública do Amazonas. Carlos foi vítima de tortura e incendiado enquanto ainda estava vivo, seguido por um extenso ataque a tiros, concentrados majoritariamente na cabeça, somando dezenove disparos no total. O local do crime, situado no Ramal do Seringal, na BR-174, tornou-se cena de um ato cujas motivações parecem entrelaçar as sombrias facetas de crime organizado e corrupção entre autoridades, exacerbando a preocupação acerca dessa interseção perigosa.
Esse caso complexo já está sob investigação pelas autoridades locais. A cena do crime incluía um veículo Renault Sandero clonado, utilizado por Carlos, e um documento militar falso, que apontam para um histórico pessoal complicado da vítima, marcado pelo estelionato. As revelações feitas por Carlos em um vídeo gravado antes de sua morte, onde ele detalha seu papel na distribuição de drogas e a participação de autoridades no esquema, só adicionam camadas de complexidade ao caso. Enquanto o corpo de Carlos foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para procedimentos de praxe, a polícia segue com as diligências na tentativa de desvendar os fios que conectam a vítima aos denunciados e às circunstâncias de sua morte.
Assassinato de PM
Na madrugada de segunda-feira, 4 de novembro de 2024, o sargento da Polícia Militar do Amazonas (PMAM), Elizeu da Paz , foi mortalmente atingido por um disparo em uma emboscada montada sob o pretexto de uma corrida por aplicativo na zona Norte de Manaus. Tudo começou quando a filha de Elizeu, Yasmin, pediu um transporte por aplicativo para o pai no Condomínio Smart Flores. Dois homens ingressaram no veículo e, após uma parada planejada em um bar para comer sopa, um deles, sentado atrás, efetuou um disparo contra Elizeu. O motorista, identificado por Richardson, ainda ouviu o disparo e, percebendo o ato, viu o autor fugir após ordenar que parasse o carro.
Elizeu ainda estava vivo quando as autoridades chegaram, sendo prontamente socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e levado ao Hospital e Pronto Socorro João Lúcio, onde, infelizmente, veio a falecer naquela mesma manhã devido aos ferimentos.
Manaus, uma das capitais mais violentas do Brasil
O problema da violência em Manaus vai muito além deste crime específico. A capital amazonense ocupa a terceira posição entre as capitais brasileiras com os maiores índices de homicídios, segundo o Atlas da Violência, que analisou dados de 2022. Com 1.130 homicídios registrados no último ano, a cidade alcançou a taxa alarmante de 55,7 homicídios por 100 mil habitantes, ficando atrás apenas de Macapá e Salvador. Em uma década (2012-2022), Manaus figurou como a quarta capital com o maior número de assassinatos.
A violência não está restrita à capital: o estado do Amazonas também lidera a taxa de homicídios na região Norte, registrando 43,5 mortes por 100 mil habitantes, o que o coloca como o segundo estado mais violento do Brasil. Municípios como Iranduba, Coari e Tabatinga, situados em áreas estratégicas para o tráfico de drogas, também apresentam índices elevados de homicídios, agravando ainda mais o quadro de insegurança no interior do estado.
A influência do tráfico de drogas e o “Tribunal do Crime”
A posição geográfica do Amazonas, situado na rota do tráfico de drogas pelo Rio Solimões, torna o estado um ponto crucial para o escoamento de entorpecentes produzidos no Peru e na Bolívia. Municípios como Coari, Tefé e Itacoatiara são pontos de passagem preferenciais, pois possuem infraestrutura para receber navios com destino internacional. Manaus, com seu porto e aeroporto, tornou-se um entreposto estratégico, atraindo facções criminosas que disputam o controle dessa rota lucrativa.
Facções como o Comando Vermelho (CV), a Família do Norte (FDN) e o Cartel do Norte protagonizam confrontos violentos pelo controle do território. Embora em menor escala, o Primeiro Comando da Capital (PCC) também está presente, contribuindo para as disputas intensas. Essas organizações atuam não apenas no narcotráfico, mas também no tráfico de armas, grilagem de terras, exploração ilegal de madeira e minérios, lavagem de dinheiro e em diversos crimes ambientais, intensificando o cenário de medo e impunidade.
A brutalidade do “Tribunal do Crime” – uma estrutura informal de “justiça” das facções – expõe a dificuldade das autoridades em conter as execuções sumárias e o domínio do tráfico nas áreas periféricas de Manaus. Para a população, que se vê constantemente ameaçada e à mercê das facções, a capital amazonense se tornou uma verdadeira zona de guerra, onde a sensação de insegurança é cada vez mais palpável.
A população vive em estado de alerta
Os números alarmantes e a rotina de crimes bárbaros como o de Raimundo Nonato têm deixado os moradores de Manaus em estado de alerta. A falta de segurança pública efetiva e o aumento das atividades criminosas acendem o sinal vermelho para o governo, que enfrenta uma crescente desconfiança da população em relação à sua capacidade de combater a violência.
A situação exige respostas contundentes e coordenadas para frear a escalada do crime organizado no Amazonas. Em um estado onde o tráfico de drogas alimenta a violência, e o “Tribunal do Crime” dita sentenças sem piedade, a população manauara segue vivendo com medo, aguardando ações que possam finalmente trazer paz e segurança.
Fonte: Portal CM7 Brasil