“Porto Velho está passando por um salto de desenvolvimento. A gente teve bastante melhorias na cidade na questão de infraestrutura. Temos as novas propostas que estão vindo, uma delas é a nova rodoviária”, disse o professor de História Luis Henrique Araújo, sobre os motivos para comemorar os 109 anos de instalação do município nesta quarta-feira (24).
Quanto ao que representa esta data, recordando a história do surgimento da cidade, o professor afirma que Porto Velho tem dois momentos muito importantes para celebrar: o 2 de outubro, dia da criação do município (em 1914), e 24 de janeiro, dia da instalação, que aconteceu em 1915.
“Na ocasião, o governador do Amazonas, Jonathas Pedrosa, indicou Fernando Guapindaia de Souza Brejense como superintendente do município, cargo equivalente ao de prefeito na atualidade. Também nomeou os intendentes, equivalente aos atuais vereadores. Porto Velho nesse primeiro momento era um município do estado do Amazonas”, explicou.
O INÍCIO
O professor relata que o surgimento da cidade está vinculado ao processo de construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM). Curiosamente, de um lado da av. Presidente Dutra era uma cidade organizada, toda planejada, vinculada à ferrovia, e do outro estava a Porto Velho brasileira, que era a periferia da época.
“Até um termo pejorativo foi colocado: os que tinham vínculo com a estrada de ferro eram chamados de categas, ou seja, os de categoria. Os que não tinham vínculo foram denominados de ‘mundiças’. Então, a estrada de ferro é o que vai possibilitar o surgimento de Porto Velho. A partir daí a cidade vai se formando e se desenvolvendo”, contou.
Do lado dos americanos o idioma oficial era o inglês, inclusive os primeiros jornais que circulavam aqui, como o The Porto Velho Marconigram e The Porto Velho Times. A partir dos anos de 1930 é que as coisas vão começar a mudar na pequena cidade.
SANTO ANTÔNIO
A princípio, não havia a ideia de fundar uma cidade a partir da construção da Madeira-Mamoré. Havia um povoado, que era em Santo Antônio, denominado Santo Antônio do Alto Madeira. “Devido à mudança de ponto para atracar as embarcações, temos então 7 quilômetros aqui mais abaixo. Com isso, o foco fica nessa região, só que não apenas dentro da estrada de ferro, ao redor também”, afirma.
De uma forma natural a vila vai crescendo e vão surgindo os primeiros bairros. Um deles inicialmente era conhecido como Alto do Bode, onde atualmente é o bairro Triângulo. Surgiu ainda a Baixa da União e o bairro Mocambo, entre outros.
“Temos essa organização social que vai se formando ao redor da ferrovia, o que vai possibilitar o surgimento da cidade de Porto Velho de uma forma espontânea. Porém, desde o século XVIII temos a ocupação dessa localidade, o povoado de Santo Antônio, mas se efetivando mesmo a partir da construção da Madeira-Mamoré”.
A ESTATIZAÇÃO
Luis Henrique afirma que a partir de 1931, Porto Velho dá um salto importante. Com a EFMM sendo patrimônio do Brasil, Aluízio Ferreira é nomeado o primeiro diretor brasileiro da ferrovia. “Este move a sua influência local durante a visita que o presidente da república, Getúlio Vargas, fez aqui, no que já era Porto Velho”.
É quando acontece a inauguração de várias construções muito importantes, como a sede dos Correios, praças, instalação de usina de energia. Esse salto possibilitou, em 1943, a criação do Território Federal do Guaporé. O palácio Presidente Vargas, antiga sede do governo estadual, foi inaugurado em 1954.
“Foi montada toda uma estrutura institucional e organizacional para se criar o Território Federal do Guaporé. Essa estrutura vai se formando nas décadas de 20 e 30, quando vários empreendimentos são construídos por meio de empresários, pois com a construção da ferrovia, mais de 40 nacionalidades estavam presentes aqui, trabalhando na obra. Também vieram muitas pessoas para se aventurar, que acabaram ficando e formando comércios”.
CICLO DA BORRACHA
Nos anos 40, com o 2º ciclo da borracha, quando o Brasil assinou o acordo de Washington para vender a produção aos Estados Unidos da América (EUA), muitos nordestinos migraram para essas bandas e aqui foram chamados de ‘Arigós’, que é o nome de um pássaro. Eles se abrigavam em um galpão onde atualmente é a sede do 1º Batalhão da Polícia Militar, de onde saiam contratados para trabalhar nos seringais.
“A gente tem esse grande crescimento também nesse período e a cidade vai se desenvolvendo a partir desses ciclos econômicos. Inclusive em homenagem aos ‘Arigós’ temos hoje um bairro chamado Arigolândia”, afirma o historiador.
CICLO DO OURO
Nos anos de 1980, aconteceu o ciclo do ouro nos garimpos do rio Madeira. Nessa época, com a inauguração da BR-364 e os planos de ocupação do Governo Federal, muita gente veio para Porto Velho. “É quando temos a formação do que chamamos de zonas Sul e Leste. A cidade dá um salto no número de habitantes, em média de 133 mil no início dos anos 1980, passando para mais de 300 mil no início dos anos 1990”.
HIDRELÉTRICAS
O professor conta que o processo para construção das hidrelétricas Santo Antônio e Jirau iniciou basicamente no ano de 2008 e trouxe muitas pessoas para trabalhar na construção desses dois empreendimentos, principalmente do Sudeste. “Quando a gente trata de migração recente para Porto Velho é sempre bom lembrar das usinas”.
Segundo o historiador, “hoje Porto Velho continua crescendo, sendo um dos principais produtores de gado, inclusive, com o desenvolvimento do agronegócio, instalação de pequenas indústrias e a gente segue nesse desenvolvimento”.
MOSAICO CULTURAL
Por conta de todos esses ciclos econômicos e de migração, desde o seu processo de formação, a partir das obras da EFMM, o professor entende que Porto Velho é uma cidade plural e um verdadeiro mosaico cultural. Porém, “aos poucos a gente vai moldando a nossa cultura, que é a cultura beradeira. É o nosso peixe, a nossa música regional, é tudo aquilo que nós vivenciamos, tudo o que nós falamos. Como diz o ditado: quem bebe água do rio Madeira nunca mais vai embora, e se vai embora, volta”.
O professor Luís também conta que a história dele está muito ligada a história de Porto Velho. “Eu sou fruto de uma família de migrantes. Meu pai nasceu em Minas Gerais, mas com um ano de idade a família dele mudou-se para cá. Minha mãe nasceu no Maranhão e veio para cá no ciclo do ouro do rio Madeira, nos anos 1980. Eles se encontraram aqui, formaram família e eu fui gerado”.
PERCEPÇÃO DA CIDADE
Olhando a cidade hoje, após tantos ciclos, Luis Henrique acredita que Porto Velho está passando pelo maior período de asfaltamento das vias, gerando uma verdadeira transformação na estética da cidade. “Acredito também que o prefeito Hildon Chaves vai ser bem lembrado, assim como o Chiquilito Erse nos anos de 1990. Acredito que Hildon Chaves também vai ter esse destaque dentro da história local”.
Formado em licenciatura em história pela Universidade Federal de Rondônia (Unir) e mestrando em História da Amazônia, Luis Henrique vem ganhando cada vez mais visibilidade em seu trabalho por meio de vídeos que contam a história regional em suas redes sociais.
Texto: Augusto Soares
Foto: Leandro Morais/ Wesley Pontes
Superintendência Municipal de Comunicação (SMC)