Reintegração de posse em Alvorada D’Oeste gera revolta e comoção entre produtores rurais
A terça-feira (28) foi marcada por um cenário de profunda comoção, revolta e lágrimas na linha 106, zona rural do município de Alvorada do Oeste, em Rondônia. Famílias inteiras, com décadas de trabalho e títulos reconhecidos pelo próprio Estado, foram retiradas de suas propriedades em cumprimento a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em uma operação articulada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) com apoio da Força Nacional de Segurança Pública.
Segundo relatos de moradores, os produtores rurais, muitos assentados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) há mais de 40 anos, apresentaram escrituras públicas, registros em cartório e outros documentos que comprovam a posse legal das terras. Mesmo assim, as máquinas chegaram acompanhadas de agentes federais para executar a reintegração, o que gerou desespero e indignação entre as famílias.
“Hoje é um dia de luto para Rondônia. O dia em que o título definitivo não valeu nada e o produtor honesto foi tratado como invasor”, desabafou, emocionado, um representante rural que acompanhava a retirada de vizinhos e amigos de suas casas e plantações.
As famílias afetadas afirmam que as terras foram compradas de forma legítima e que, durante décadas, serviram para a produção agrícola que abastece a região e gera renda para o estado. A operação, segundo os produtores, reflete o crescente distanciamento entre as decisões tomadas em Brasília e a realidade vivida no campo, onde muitos construíram suas vidas de maneira pacífica e produtiva.
Entidades do setor, como a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Rondônia (Faperon), classificaram a ação como “uma injustiça sem precedentes” e informaram que irão buscar medidas judiciais e apoio político para tentar reverter a situação. Lideranças rurais também prometem mobilizações em diversas regiões do estado caso a operação não seja suspensa.
Até o momento, nem a Funai, nem o STF, nem o Palácio do Planalto se pronunciaram oficialmente sobre o caso. O silêncio das autoridades tem sido interpretado por muitos produtores como um sinal de descaso com o setor que há décadas sustenta a economia do interior rondoniense.
Enquanto a poeira das máquinas cobre o que antes eram lavouras e casas, o sentimento predominante entre os moradores é o de perda e incredulidade. Para eles, a retirada forçada representa não apenas a perda da terra, mas também o fim de uma história construída com trabalho, esperança e fé no direito à propriedade.