Cada lado da guerra oferece sua versão para ritmo mais “lento” nos combates; Kiev e norte da Ucrânia têm confrontos
O Ministério da Defesa da Rússia afirmou, neste sábado (26), que suas tropas receberam ordens para retomar a ofensiva “em todas as direções”. Segundo o órgão, a medida foi decidida porque a Ucrânia “abandonou o processo de negociação” por um cessar-fogo. O governo ucraniano nega que tenha feito a recusa.
Um oficial militar Otan, por sua vez, afirma que a Rússia fala em pausa na negociação como desculpa para seu atraso no avanço da invasão à Ucrânia.
A versão russa
“[Na sexta-feira], depois que o regime de Kiev declarou sua prontidão para negociações, as hostilidades ativas nas principais direções da operação foram suspensas”, disse o porta-voz do Ministério da Defesa, major-general Igor Konashenkov, em um comunicado neste sábado (26).
“Depois que o lado ucraniano abandonou o processo de negociação, hoje todas as unidades receberam ordens para continuar sua ofensiva em todas as direções, de acordo com o plano de operação”.
As declarações do ministro da Defesa, também ecoadas pelo Kremlin, ocorreram depois que autoridades ocidentais disseram que a invasão russa não estava progredindo tão rápido quanto Moscou esperava.
A versão da Ucrânia, da Otan e dos Estados Unidos
Um representante da presidência ucraniana, no entanto, negou, na madrugada deste sábado, que o país tenha se recusado a negociar.
Um oficial militar Otan diz que “eles (russos) estão tendo problemas”, apontando para as informações mais recentes da aliança. “Eles não têm diesel, estão indo devagar e o moral é obviamente um problema.”
Questionado se os russos provavelmente intensificarão seus esforços, o funcionário disse: “Eles precisam, estão muito atrasados. Isso está ficando fora de controle para eles, cada dia adicional é muito doloroso.”
Na tarde de sábado, a velocidade do avanço da Rússia na Ucrânia diminuiu, provavelmente devido a dificuldades logísticas e “forte resistência ucraniana”, disse o Ministério da Defesa do Reino Unido em comunicado baseado em atualizações de inteligência.
A maioria das mais de 150.000 forças russas que se reuniram ao redor da Ucrânia agora estão lutando no país, mas essas tropas estão “cada vez mais frustradas por sua falta de impulso” enquanto enfrentam forte resistência ucraniana, disse um funcionário do Pentágono.
Mais cedo, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, disse que as forças do país “resistiram e repeliram com sucesso os ataques inimigos”. “Os combates continuam em diferentes cidades e regiões do nosso país”, disse.
“Nós arruinamos os planos deles (russos). Eles não têm vantagem sobre nós”, afirmou o presidente sobre a tentativa das tropas da Rússia em controlar Kiev, capital da Ucrânia. Explosões e tiros foram ouvidos durante a madrugada, enquanto as tropas russas avançavam sobre a cidade.
Países europeus enviam reforços para a Ucrânia
A Alemanha, Portugal, Holanda e República Tcheca anunciaram na sexta-feira (25) e neste sábado o envio de mais suprimentos para ajudar a Ucrânia em meio ao combate contra a Rússia, iniciado na madrugada de quinta-feira (24), assim como o envio de tropas.
A República Tcheca se comprometeu a realizar um “envio de armas para a Ucrânia” no valor de mais de US$ 8,5 milhões para um “local de escolha dos ucranianos”.
Já a Holanda disse que forneceria mais poder de fogo à Ucrânia. “A Holanda fornecerá à Ucrânia 200 mísseis antiaéreos Stinger. Outros materiais de defesa já estão a caminho”, tuitou o conselheiro de defesa e relações exteriores do primeiro-ministro, Geoffrey van Leeuwen.
O governo holandês também fornecerá 50 armas antitanque Panzerfaust-3 e 400 foguetes, disse o ministério em uma carta ao parlamento.
O primeiro-ministro de Portugal, António Costa, disse na sexta-feira que o país vai enviar reforços para se juntar aos soldados ucranianos no terreno para ajudar a proteger as suas fronteiras.
A Alemanha também entregará armas à Ucrânia, em uma grande mudança de política depois de resistir aos pedidos anteriores de Kiev por armamento defensivo.
“O ataque russo marca uma mudança nos tempos. É nosso dever apoiar a Ucrânia tanto quanto pudermos nos defender contra o exército de invasão de Putin. Portanto, entregaremos 1.000 armas antitanque e 500 mísseis Stinger para nossos amigos na Ucrânia”, disse o chanceler alemão Olaf Scholz.
Rússia e Ucrânia divergem sobre alvos civis atingidos
De acordo o prefeito da capital Kiev, Vitaliy Klitschko, um prédio residencial de mais de 20 andares foi atingido por um míssil. Não há informações de vítimas. O prefeito anunciou que Kiev adotará um toque de recolher das 17h deste sábado (26) (12h de Brasília) até as 8h de segunda-feira (28).
Equipes da CNN norte-americana na capital ucraniana relatam fortes explosões a oeste e sul de Kiev na manhã deste sábado.
De acordo com o governo ucraniano, um tanque e aeronaves do exército russo foram destruídas no combate desta madrugada. O Estado-maior das forças armadas informou que havia também ataques em outras cidades.
O Ministério da Defesa da Rússia disse que lançou ataques com mísseis de cruzeiro durante a noite contra alvos na Ucrânia, mas afirmou que visava exclusivamente a infraestrutura militar. Mais tarde, neste sábado, o órgão afirmou que a distribuição de armas a civis por parte do governo ucraniano “inevitavelmente levará a acidentes e baixas”.
“O regime nacionalista de Kiev distribui massiva e incontrolavelmente armas leves automáticas, lançadores de granadas e munição para moradores de assentamentos ucranianos”, disse o porta-voz do Ministério da Defesa, Igor Konashenkov.
O ministério russo também afirmou que unidades das forças armadas russas assumiram o controle da cidade de Melitopol, no sudeste da Ucrânia.
Na sexta-feira (25), o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, procurou tranquilizar a comunidade internacional ao sobre ataque a civis. “Ninguém vai atacar o povo da Ucrânia”, disse ele durante uma acalorada conferência de imprensa, dizendo à CNN que “não houve ataques à infraestrutura civil”.
Vídeos, fotos e imagens de satélite analisadas e geolocalizadas pela CNN confirmam que em várias ocasiões áreas densamente povoadas na Ucrânia foram atingidas. A CNN Internacional entrou em contato com o governo russo para comentar e aguarda retorno.
Ucranianos fogem do país rumo a países da União Europeia
Segundo a ONU, mais de 120 mil ucranianos fugiram do país nas últimas 48 horas. Famílias temerosas com a guerra lotam as fronteiras da União Europeia na esperança de entrar na Polônia, Eslováquia, Romênia e Hungria.
A vice-alta comissária das Nações Unidas para os Refugiados, Kelly Clements, disse à CNN neste sábado (26) que até 4 milhões de pessoas podem tentar cruzar as fronteiras enquanto a crise na Ucrânia continua.
enviado especial da CNN Brasil, Mathias Brotero, mostrou a chegada dos refugiados ucranianos ao país – assista no vídeo abaixo. Eles foram recebidos com suprimentos, como alimentos e fraldas.
Presidente ucraniano divulga novo vídeo
Em vídeo postado no Twitter na manhã deste sábado (26), o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, negou quaisquer relatos de que a Ucrânia vai depor suas armas. A publicação trazia a legenda “não acredite nas falsificações”.
“Estou aqui. Não vamos baixar as armas. Estaremos defendendo nosso país, porque nossa arma é a verdade, e nossa verdade é que esta é nossa terra, nosso país, nossos filhos, e vamos defender tudo isso”, disse.
Em um tweet separado nesta manhã, ele acrescentou que havia acabado de falar com o presidente francês Emmanuel Macron. “Armas e equipamentos de nossos parceiros estão a caminho da Ucrânia”, escreveu ele. “A coalizão anti-guerra está funcionando!”
Em outra publicação, minutos mais tarde, Zelensky disse que era um “momento crucial para decidir a entrada da Ucrânia na União Europeia”.
Apesar de o presidente russo, Vladimir Putin, ainda não ter sinalizado uma desescalada da operação militar, o porta-voz do presidente ucraniano afirmou que Rússia e Ucrânia estão discutindo um local e horário para negociações.
Embora Zelensky tenha feito um discurso citando uma possível resistência, o porta-voz ucraniano Sergii Nykyforov afirmou, em uma rede social, que ” Ucrânia estava e continua pronta para falar sobre um cessar-fogo e paz”.
Brasileiros conseguem deixar Ucrânia
O Ministério das Relações Exteriores informou que 40 brasileiros embarcaram neste sábado em Kiev, capital da Ucrânia, que é alvo de ataques russos, para a cidade de Chernivtsi, próxima à fronteira com a Romênia.
Segundo o Itamaraty, os brasileiros seguirão até a fronteira, onde serão recepcionados por funcionários da Embaixada do país em Bucareste. O trem deixou Kiev por volta das 16h50 locais (11h50 de Brasília).
Meta proíbe anúncios de mídia estatal russa
A Meta Platforms Inc FB.O vai barrar a mídia estatal russa de veicular anúncios ou monetizar em sua plataforma em qualquer lugar do mundo, disse a empresa controladora da gigante de mídia social Facebook.
“Também continuamos a aplicar rótulos a outras mídias estatais russas”, disse o chefe de política de segurança, Nathaniel Gleicher, no Twitter. “Essas mudanças já começaram a ser implementadas e continuarão no fim de semana”.