Dezenas de estudantes de medicina da Universidade de Michigan (EUA) abandonaram uma cerimônia da faculdade no domingo (24) em protesto contra uma palestrante com opiniões antiaborto.
Quando a Dra. Kristin Collier, professora assistente de medicina interna da universidade, iniciou seu discurso na tradicional “Cerimônia do Jaleco”, dezenas de alunos se levantaram abruptamente e saíram do auditório, mostra um vídeo compartilhado nas redes sociais (veja abaixo). Alguns membros da plateia também deixaram o local.
Antes do evento, no qual os novos estudantes de medicina recebem seus primeiros jalecos médicos, alguns alunos fizeram uma petição à escola para substituir Collier por outro orador, citando suas opiniões contra o aborto.
“Embora apoiemos os direitos de liberdade de expressão e religião, um orador ‘anti-escolha’ como representante da Universidade de Michigan mina a posição da Universidade sobre o aborto e apoia a plataforma enraizada na teologia para restringir o acesso ao aborto, parte essencial dos cuidados médicos”, diz a petição.
O estudante de medicina Elliott Brannon, que ajudou a organizar a petição, disse à CNN que mais de 300 estudantes de medicina assinaram o documento. As ações foram organizadas principalmente por novos alunos com o apoio de veteranos, disse Brannon.
“Isso não é simplesmente um desacordo de opinião pessoal”, dizia a petição. “Através de nossa demanda, estamos nos solidarizando contra grupos que estão tentando tirar os direitos humanos e restringir os cuidados médicos.”
Collier, que também dirige o programa da faculdade de medicina sobre saúde, espiritualidade e religião, já expressou opiniões antiaborto, inclusive em um tweet de 4 de maio.
“Agarrar a uma visão de feminismo onde se luta pelos direitos de todas as mulheres e meninas, principalmente as mais vulneráveis. Não posso deixar de lamentar a violência dirigida às minhas irmãs no ato do aborto, feito em nome da autonomia”, escreveu ela, acrescentando mais tarde: “A libertação que custa vidas inocentes é apenas opressão redistribuída”.
A universidade disse à CNN que Collier foi escolhida para ser a oradora principal por membros da Gold Humanism Honor Society da faculdade de medicina. Em um comunicado, a instituição defendeu a decisão de mantê-la como palestrante do evento.
“A Cerimônia do Jaleco Branco não é uma plataforma para discussão de questões controversas”, disse o comunicado. “Seu foco será sempre acolher estudantes na profissão de medicina. A Dra. Collier nunca planejou abordar um tópico divisivo como parte de suas observações. No entanto, a Universidade de Michigan não revoga convite para um palestrante com base em suas crenças pessoais.”
A instituição também reiterou que seus cuidados reprodutivos ainda incluem o aborto.
“A Universidade de Michigan e a Medicina de Michigan continuam comprometidas em fornecer cuidados reprodutivos seguros e de alta qualidade para pacientes, em todas as suas necessidades de saúde reprodutiva. Isso inclui assistência ao aborto”, disse o comunicado.
Após a decisão da Suprema Corte de derrubar Roe v. Wade, o aborto continua legal em Michigan. Embora o estado tenha proibido o aborto em 1931, a restrição está temporariamente bloqueada por um tribunal estadual.
A CNN entrou em contato com Collier para comentar, mas não recebeu resposta.
Collier disse durante a cerimônia que estava honrada por ser escolhida para falar. Antes de fazer um discurso para os novos alunos sobre como sobreviver e prosperar na área médica, ela pareceu reconhecer a controvérsia.
“Quero reconhecer as feridas profundas que nossa comunidade sofreu nas últimas semanas”, disse a professora. “Temos muito trabalho a fazer para que a cura ocorra e espero que por hoje, desta vez, possamos nos concentrar no que mais importa, nos unindo para apoiar nossos alunos recém-aceitos e suas famílias com o objetivo de recebê-los em uma das maiores vocações que existem nesta terra – a vocação da medicina”.