Rondônia desponta como um dos principais polos cafeeiros do Brasil. O estado já é o maior produtor de café da Região Norte e ocupa o quinto lugar no ranking nacional, com mais de 48 mil hectares cultivados e uma produção que ultrapassa 2,8 milhões de sacas de café robusta por ano. Um verdadeiro orgulho para os rondonienses, que colocaram o estado no mapa mundial da cafeicultura de qualidade.
Mas se no campo os números impressionam, nas prateleiras dos mercados o cenário é bem diferente e indigesto para a população. O que deveria ser um motivo de celebração se transformou em motivo de frustração: o café rondoniense, apesar de sua fartura e qualidade reconhecida, está cada vez mais caro para o próprio povo do estado.
Nos supermercados de Porto Velho e do interior, pacotes de café que antes custavam cerca de R$ 8,00 agora são encontrados por valores que chegam a R$ 40,00. A alta nos preços tem gerado revolta entre os consumidores. Muitos rondonienses relatam ter deixado o café fora da lista de compras da cesta básica, optando por marcas de outros estados ou até substituindo o produto por bebidas mais acessíveis.
“É triste saber que produzimos tanto café e somos reconhecidos por isso, mas não conseguimos mais consumir o que é nosso”, lamenta a dona de casa Maria do Socorro, moradora da zona leste de Porto Velho. “Antes o café fazia parte do nosso dia a dia. Agora virou artigo de luxo.”
Especialistas apontam que a valorização do café rondoniense no mercado externo e em outros estados tem sido um dos fatores que impulsionam o aumento nos preços locais. Exportar sai mais barato do que abastecer o próprio mercado interno, o que levanta um debate importante sobre políticas de valorização do consumo local.
“É contraditório. Temos um produto de excelência sendo premiado e reconhecido lá fora, mas o acesso a ele está restrito à elite dentro do próprio estado”, afirma um economista rural . “Esse desequilíbrio precisa ser revisto com urgência.”
O café de Rondônia já é citado como o melhor da Região Norte e se destaca por sua qualidade e sustentabilidade na produção. No entanto, essa fama não tem beneficiado os consumidores rondonienses, que se sentem excluídos de um bem que deveria ser parte do cotidiano.
Enquanto isso, o cheiro do café recém-passado vai se tornando cada vez mais raro nas cozinhas das famílias de baixa e média renda. O que antes era símbolo de hospitalidade e de um despertar agradável, agora é sinal de desigualdade e um lembrete de que nem sempre o que se planta, se colhe.